Tendão de Aquiles (do Calcâneo): Erros Anatômicos

O Tendão de Aquiles também possui uma história sobre imperfeições evolutivas, consequentemente, erros anatômicos.

Entenda:

Ao longo da Evolução, houve a alteração de caminhar parte anterior  dos pés, ou antepé (forefoot/ “balls of the feet”) para os calcanhares. Essa mudança fez com que fosse imposta maior tensão ao tendão, pois foi atribuído maior papel aos músculos da panturrilha para permitir a marcha bípede.

 

Acompanhe o cladograma (“mapa evolutivo”) abaixo para observar as alterações nessa estrutura (calcanhar e tendão de aquiles):

 

Esse é o esqueleto de um mamífero primitivo. Observe o apoio na parte anterior dos pés, bem como o uso de 4 membros, o que distribuía melhor a carga e não exigia tanto do tendão de Aquiles (do Calcâneo).

 

Com o avançar evolutivo, houve o surgimento dos primatas, onde já se esboçavam habilidades em Marcha Bípede, porém incipiente e em curtas distâncias. (vejo o vídeo abaixo)

[Entenda mais sobre alterações anatômicas dos primatas que permitiram uma marcha mais eficiente – Clique Aqui para Entender]

Dessa maneira, pelo esboço de uma marcha incipiente, já se observou uma evolução no complexo do tríceps sural e seu tendão em relalçao aos mamíferos primivos.

  • À esquerda da imagem acima, observamos a panturillha e tendão de um ser humano, capaz de gerar muito maior força; porém, muito mais vulnerável à lesões.

 

  • O macaco/primatas primitivos não é/eram adaptados a caminhar. Ao longo da Evolução, foi criada uma maior eficiência anatômica e biomecânica. Compreenda:

O princípio físico do Momento (vide a formula e sua aplicação em gangorras):

 

A formula diz que o Momento é maior caso a distância em relação a força, por meio de uma alavanca, for maior. Isso é aplicado em gangorras. Quanto mais distante do apoio Centro da gangorra, maior será o momento.

 

Alterações anatômicas:

 

  • O tendão do Tríceps Sural evoluiu ficando mais longo, permitindo um maior Momento  aos músculos realizadores da contração.

 

  • Os mesmos músculos também aumentaram em área de secção, o resultado é uma maior geração de força. Além disso, as fibras também obtiveram uma angulação de seus feixes, o que permitiu gerar ainda mais força, isto é, a angulação gera uma maior força por área em relação às fibras não anguladas.

 

  • Para a adaptação dessas maiores forças impostas, o tendão ficou mais forte e espesso; o que o fez ser a estrutura mais visível do calcanhar: 
  • Essas alterações tornaram o tendão do calcâneo mais supeficial e proeminentemente na parte posterior do tornozelo, o que o torna desprotegido e mais suscetível à lesões.

 

  • Apesar das adaptações em resistência tênsil e espessura, as novas e grandes forças impostas causam de maneira frequente rupturas desse tendão.

 

  • Vale citar condições como o despreparo físico, envelhecimento, uso de medicações como antibióticos como fluorquinolonas e esteroides anabolizantes, os quais, além de toda predisposição gerada pela evolução, potencializam exponencialmente a chance de lesão

 

  • Essa é uma dar piores lesões esportivas – caso completamente rompido, há impossibilidade até mesmo de caminhar, uma vez que o tendão aquileu liga os músculos que fazem a flexão plantar (sóleo, gastrocnemio) ao osso calcâneo, causando a perda das ações desses músculos

 

 

 

 

Fatores Biomecânicos:

 

O corpo humano possui 3 tipos de sistemas de alavancas.

 

O complexo que o tendão do Calcâneo está envolvido é de uma alavanca de segunda classe (inter-resistente), a qual potencializa a força gerada e consequentemente a carga sobre o tendão. O mesmo mecanismo aplicado nesse tendão é utilizado em carrinhos de mão (vide imagem comparativa acima).

 

Essa configuração de alavanca é única entre os principais tendões e articulações do corpo. Apesar de aumentar a eficiência da força (do momento, como explicado acima), exige muita resistência do tendão. Somente o tendão mais forte do corpo é capaz de resistir a essa carga. Todavia, mesmo o forte tendão do Calcâneo (de Aquiles) pode ser rompido em e está muito sujeito a tal, como exposto acima.

 

Referências:

–  Lents, Nathan H. Human Errors: A Panorama of Our Glitches, from Pointless Bones to Broken Genes. Houghton Mifflin Harcourt, 2018.

–  Moore, Keith L., Arthur F. Dalley, and Anne MR Agur. Clinically oriented anatomy. Lippincott Williams & Wilkins, 2013.

– Thompson, Jon C. Netter’s Concise Orthopaedic Anatomy E-Book. Elsevier Health Sciences, 2015.

Deixe um comentário